Manteiga de chocolate

Ainda imberbe, a belíssima mulher que me pariu dava-me alguns trocos para ir buscar dois pães de Mafra ao Sr. Nogueira. O carismático merceeiro já sabia o que queria do seu pitoresco estabelecimento comercial. Ali, o fiado era permitido e não havia luzes artificiais a atrofiarem os olhos. De uma pequena mercearia guardo imensas recordações como, a título de curiosidade, o momento em que pedi manteiga de chocolate. Pobre coitado, o Sr. Nogueira estava longe de imaginar que eu queria barrar o pão de Mafra com Tulicreme (é assim que se escreve?). Fiquei triste por não ter entendido e atendido o meu pedido, mas mais fiquei quando a gangrena se alastrou pelas suas pernas e parte dos seus membros foram amputados. Algum tempo depois morreu. Nunca tirou férias nem gostava que as velhotas escolhessem a dedo o que é para ser escolhido às mãos cheias. Deixou de haver o Sr. Nogueira e apareceu o Continente. Mas o Sr. Belmiro nunca foi tão simpático comigo. Aliás, nem o conheço. Só sei que é muito rico e aparentemente tem saúde…
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Comentários

  1. é assim mesmo que se escreve Tulicreme. o pão até ganhava outro gostinho e não era preciso ter putos com penteados duvidosos para promover o produto, ao contrário do que acontece hoje com o nutella. é estranho que também me lembro de um merceeiro perto de minha casa que morreu antes do "boom" do Sr. Belmiro. e também era bem simpático.

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  2. "One by one, only the good die young"

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  3. Sorrisos Perfeitos?
    "Tudo depende do olhar. Da mesma maneira que a fotografia é impressa, reproduzida até ao infinito, num instante único que não se repetirá mais, a obra de arte é como o fabrico de uma tentativa de absoluto. Único. Que, num detalhe, num reflexo, quis apoderar-se do inacessível." (Mark de Smedt in Elogio do Silêncio)
    Assim o são também as nossas memórias... tentativas em vão de alcançar o que jamais se voltará a viver.

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  4. "Não estimes o dinheiro nem em mais nem em menos do que aquilo que vale, porque ele é um bom servo e um mau amo.
    (Alexandre Dumas)"

    Também eu tive um merceeiro lá no bairro o Sr.Albino, era muito querido - vendeu a mercearia e comprou uma quinta em Azeitão. O outro senhor que ficou com a mercearia, o senhor António, toda a sua família era demais, também vendiam fiado - venderam a mercearia e compraram uma herdade no Alentejo, e toda a família se dedicou ao turismo de habitação. Viva ao Belmiro!!
    Mas não és tu que curtes shoppings e grandes superficíes? ;)

    *

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