Os sacanas dos greys abduziram, amigavelmente, o meu amigo Pepe Frank. Mas só por uns tempos...

Pepe Frank é uma criatura estranha. Não reforço a minha tese por este ter dormido desde criança no Cacém – não! Todavia, foi nesta cidade insalubre e doentia onde o meu amigo gótico-marado-dos-cornos avistou um OVNI. Disse-mo e insistiu ser a mais pura das verdades. Mas Pepe Frank, personagem que poderia retirar de uma das películas de Tim Burton, tinha muito mais para me oferecer durante os dias que passámos juntos…
- Tenho um favor a pedir-te! – ui, vem aí merda, pensei.
- Ouve lá, estou mesmo à rasca de dinheiro! – dramatizei.
- Marcaram-me um concerto na F.D. Acredita que não faltarão gajas! – assegurou-me.
- Sim, mas queres o quê? Que te limpe o suor do rosto ou te cobre as entradas?
- Que toquemos os dois! Está na altura de te apresentares ao mundo! – dito assim, sentia que o Albert Hall viria a ser em breve a minha segunda casa! Inventei uma mão cheia de desculpas para não o fazer. Aprendia guitarra há meia dúzia de meses num escola banalíssima. Mas isso são pormenores sem a mínima importância, já cantarolava a Rita Guerra – para quem não a conhece é a amiga do Beto…

UMA PAUSA NESTA PRODUÇÃO DE ALTA QUALIDADE!!!

Esta piadinha da Rita Guerra e do Beto resultou muito bem! Foda-se, às vezes quero ganhar juízo, mas estou condenado a viver na sombra do que não consigo controlar.

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AGORA QUE ME LAMBI TAL E QUAL UM GATO, prossigo viagem…

Certo está que o concerto foi avante, camarada Vasco. E as gajas, essas, nem vos conto. Ou aliás, conto mesmo: contavam-se com dois dedos de uma mão (extraordinária redundância) e a assistência com cinco (dedos, também, note-se!).
O meu amigo Pepe Frank era e é poeta. Poeta a sério! Como tal, não era de estranhar que o admirasse como um espécime raro. Conseguiu por várias vezes que os seus poemas fossem editados no Cunhas (hoje, Lounge), um bar onde as minis eram baratas e se processavam noites temáticas, entre elas as de poesia. Paulo Campos dos Reis animava o pessoal.
- Tenho um favor a pedir-te! – ui...
- Precisava que me emprestasses cinco contos para ir ao Sudoeste. – disse-me assim, com a habitual “lata fresca e seca”.
Já agora, a imagem mais assustadora que guardo do Pepe Frank não se prende com a sua abdução nem com os misteriosos portais de Sintra, nos quais terá vagueado nas dimensões paralelas ou desdobramentos astrais. Acreditem: tal e qual o Chupa Cabras, o Homem-Pó existe (!) – estava à minha frente!
- O que te aconteceu? Estás… estás… (risos idiotas, os meus!).
- Posso tomar banho em tua casa, os meus pais vão chatear-me os cornos se eu lhes apareço assim.
Sim, sim, os pais do Pepe Frank… O macho idoso quis dar-me uma real sova por desencaminhar o filho – quem eu?! A fêmea chegou a arrancar-me um pacote de bolachas da mão, comprovando que nem todas as mães dos nossos amigos são afáveis ao ponto de se aplicarem na feitura de lanches (salvaguardo, no entanto, a mãe de Formicidae). Já agora, se me conseguirem ouvir, vocês é que deviam ter sido levados no objecto voador.
- Pepe!!! Já não sabia nada de ti há dias! – gritava de contentamento ao ouvir a sua chamada.
- Tenho um favor a pedir-te. Quero que digas ao pessoal que eles só me libertam quando estudarem devidamente todas as minhas emoções e órgãos.
- Podes estar descansado!
- Se alguma coisa correr mal, quero que saibas que não comi a Sara daquela vez… - confessou o pecador.
- Vai-te foder! Achas que acredito nisso? Volta mas é depressa! – ordenei com voz paternal.
Entretanto, Pepe Frank já regressou praticamente intacto. Trabalha na secção alternativa de uma conhecida loja de música. Se o Planeta soubesse dos seus amigos interplanetários, estaria acorrentado num dos pavilhões da Area 51. Mas não, embora também já não more no Cacém. Não vá o movimento alienígena tecê-las e deixá-lo mais distante do que sempre esteve da vegetação e do sonambulismo humano!

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