Um velório e um hambúrguer
Longe de casa e a caminho de um velório, num registo de viandante soturno, entro num espaço comercial e decido experimentar um novo pronto-a-comer gourmet de hambúrgueres. Ok, são mais de 200 gramas de carne e ainda um ovo frito a cavalgá-lo freneticamente ao som de um pesado e moroso Bolero de calorias. É claro que após o repasto me senti mal, mas enquanto o comi, senti uma alegria própria de uma criança que encontra um parque infantil no meio do nada. E não me deixei intimidar pelos remorços. Bastou-me mirar as criaturas passantes que, à procura da linha - reparem só na ironia da coisa -, entravam hirtas e confiantes na Casa das Sopas (é assim, não é?). O problema de engordarem até explodirem num regozijo de prazer à moda de La Grande Bouffe não me incomoda. Incomoda-me, sim (!), desconhecerem o simples facto daquelas sopas terem mais farinha do que um camião cisterna pode albergar. Ao menos, e a minha presença estava lá para o comprovar, há ainda indivíduos que comem com a consciência de que estão mesmo a comer merda e não pseudo-não-merda.