Ensaio sobre correr e a sua inevitável vertente metafórica
corro da dor de burro, mas ela alcança-me. encho os pulmões de ar e não largo o passo de corrida: desistir não é opção. tenho que me gerir e rasgo-me nos sprints em momentos de maior coragem. volta o asno a picar-me os abdominais. abrando novamente e volto a bombear a caixa. continuo. não paro. a cada passo desfaço o meu ressentimento e culpa. reinvento-me no pé apressado de correr para um final mais feliz do que quando parti. tenho o peito suado, cansado, vivo. conheço o percurso. o seu princípio e fim. volto outras vezes à pista para conhecer todos os metros que já pisei; para deixar de levar coices do animal; para correr cada vez melhor. mais rápido. mais saudável. sem atrofio. sem cãibras. com a força mais musculada e visível. corro e volto a correr da dor de burro. para longe dela. para longe da minha também.
“volta o asno a picar-me os abdominais. abrando novamente e volto a bombear a caixa”
(...)
ResponderEliminarà mesa
e a madeira respira mais rápida
e uma grande massa orgânica magnifica
cercada de membros
como um homem
essa pinças na cabeça entre as meninges
extraindo uma estrela,
os canais luminosos da cabeça
iluminam-te todo, iluminas-te
quando se arranca a língua e há um soluço da fala,
levantas-te soberbamente
ao rosto, como a vara
do vedor fica acesa
pelas ramas de água, como que salga
o aparelho do corpo
e o torna substancia
alta giratória ou se fulgura a trama
cristalográfica
terrifica da musica se levanta
entre os dedos e cordas
fundido de sangue e ar no escuro:
música
o medo do poder, esta ferida
tão de um nó de músculos estrangulando
uma leveza
o barro violento, a manobra
das vozes. Fechas os olhos e as
coisas não te vêem,
as mãos brilham-te abertas.
Herberto Helder
Li e respondi assim. Acho que (me) faz sentido.
Percebo; o Herberto tem coisas maravilhosas... ***
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